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Tudo porque um vírus se incrustou ilegitimamente na teia do poder. É (quase) certo que ainda não tem apelido oficial, embora esteja e seja “oficialmente” omnipresente. Chamam-lhe muitas coisas: abuso da liberdade, fraqueza do regime, imaturidade, ou outros impropérios no entanto todos querem dizer o mesmo, algo cuja tangibilidade se mede nos resultados concretos que produz. Sabe-se que conquistou o Poder e aí parasitou e nunca mais de lá saiu, ou foi expulsa, servindo interesses promíscuos, derrogando a legitimidade sufragada. Com a sua parcimoniosa e persistente actividade acabou por transformar o sufrágio (um dos mais imponentes alicerces duma democracia genuína) numa “chantria” sufragista que, como um tumor, se espalhou pelo corpo da Pátria atingindo-lhe os órgãos vitais.
Hoje, cansado de ver o Meu Pai de estar a ser vítima duma descomedida e imoral violência e agressão, resolvi denunciá-la a quem de direito.
E faço-o acusando-a - a mesma causa - de ser originariamente responsável, e hoje co-responsável, pelas práticas negativas que perverteram e degradaram a moral pública e transformaram a legitimidade num improbo eleitoralismo.
A chantria apoderou-se do mecanismo do poder para banalizar irreversivelmente a causa pública, fragilizar o Estado (já de si frágil) e tornar o regime doentiamente permissivo; e, não contente com tão alto estatuto, o entomófago codificou as novas regras do jogo eleitoral, limitando o candidato a representante e forçando-o a sustentar a candidatura na fórmula do dizer. Como consequência foi forçado a negociar tudo com todos, e, como consequência da consequência a campanha eleitoral passou a ser um processo descomedido, erguido na base do ruído e do insulto em substituição da reflexão.
O resultado não se fez esperar, com a legitimação da intriga, o representante eleito passa a representar essa reminiscência histérica.
Ao despertar para esta cruel constatação, ao soberano “activo” e “atento” não resta outra opção senão caminhar para a abstenção.
Ainda me faltam 10 anos para o fazer, mas já sei como e o que irei fazer.
Um destes dias, enquanto deixava escoar o tempo com brincadeiras da minha idade dei com o Meu Pai a ler um livro curioso que me surpreendeu com uma espectacular insinuação.
Nele consta, de modo escarrapachado e com todas as letras, a bold e sublinhado, que o 25 de Abril foi obra e produto dum acordo-prévio entre irrepresentantes do estado português e o inimigo.
Acontece que tal escanzelada acusação, que o deixou estupefacto e da qual me diz não ter memória de algum dia tal ter sido objecto de discussão pública ou de desmentido formal, deixou-o completamente intrigado e confuso, por um lado, pelo facto de nela constar que a sua publicação foi censurada em Portugal[1], e, por outro, pela nua e crua infutilidade com que o autor descreve minuciosamente os pormenores (dia, data, local, intérpretes, objectivo e conclusão) afirmando que nesse zaruco dia, em Maio de 1973, em Paris, ocorreu uma reunião clandestina, patrocinada pelos partidos perseguidos pelo regime deposto (PS e PCP), o representante do PCUS e seus afilhados do capim (PAIGC, FRELIMO e MPLA), na qual foi acordado a concepção e forma de execução dum golpe de estado em Lisboa.
Se o conteúdo desta notícia fosse verdadeiro (do qual o Meu Pai diz já acreditado bem menos) o golpe de Abril sofreria uma espectacular reviravolta moral, pois tal significava que fora minuciosamente congeminado à distância, longe das causas oficializadas e próximas duma tentação perfidiosa, visando unicamente promulgar uma permuta negociada. Mas o que mais nos intriga ainda, é que, apesar e para além da notícia, existe uma injustificada ausência de explicação formal, credível e pedagógica que concede território e serve de alfobre para a dúvida razoável e para a insinuação pronunciada. Com efeito, se dos relatos que por aí pululam retirarmos os aspectos puramente aventureiros, a ousadia narcisista, o sensacionalismo formal e o oportunismo ideológico ficamos sem nada, ou com muito pouco, insuficiente para descodificar o que realmente traduz tão magnânima e estrutural metamorfose.
Vá lá saber-se porquê, a juzante desses relatos avulsos impera um sepulcral silêncio que permite e dá azo ao exagero e que pior do que isso ofusca o virtuosismo e os fundamentos reais para dar asas a outras apreciações inclusive a insinuada que confere um nexo doloso entre a causalidade e o formalismo. Com tal e tão estruturante silêncio permite-se habilmente retirar conclusões que corroem o postulado missionário, a espontaneidade puramente aleatória, o formalismo puro e a ínclita proeminência que o isenta da ilicitude.
[1] Quando nos dizem que a censura havia sido já abolida!?
2 comentários:
Bom dia Major...
passando para lhe desejar um bfs.
abraço
Olá Major,boa noite...
Convido-o a passar pelo meu condominio...aberto...rsrs...e vai ter uma surpresa...rsrsrs
abraço
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