EIS MAIS UM PEQUENO EXCERTO DO ANTEPROJECTO DE LIVRO "O PERJÚRIO REVOLUCIONÁRIO", CUJO AUTOR É...
"...O golpe das Caldas foi um ardil, uma emboscada concebida para limpar a cabeça do espúrio spinolista, e, irradicar o patriotismo para mais facilmente manobrar o corpo: comprovando a inevitabilidade suscitada e a firme intenção de vencer, fosse qual fosse o preço a pagar.
O desprezado golpe das Caldas comprova e atesta a hora em que a realidade ultrapassa a ficção, o instante em que, como um flash corrosivo e por magia, o movimento se torna num empreendimento de traição.
Ao trair os camaradas isentos e descomprometidos, o intermediário, perverso, provou não olhar a meios para cumprir a sua parte do acordo: eis a mais evidente das provas. Agora, o golpe de estado e consequente revolução, que nas próximas páginas descreveremos pormenorizadamente, tem irreversivelmente o carácter duma ignomínia irresistível e irreversível.
O putsch, irreversível, reveste-se agora de contornos infinitamente distanciados daqueles que estiveram na origem do descontentamento e tornaram possível a mecanização orgânica e a solidariedade, sobre os quais a adesão se materializou. A benignidade original, corroída por “estes” fins inconfessáveis, tornou a doença cancerígena e transformou a prole contestatária numa quadrilha revolucionária.
Talvez por isso se torne agora inteligível a atitude que, na altura incompreensível e incompreendida à qual a história fecha os olhos, alguns oficiais do movimento tomaram, abandonando-o…
Na verdade oficiais houve que, antes do golpe, ou nos instantes do pós-golpe, abandonaram a revolução e fugiram para Espanha, Itália, Brasil, etc., porquê?
A versão oficial ignora-os. Mas nem nós nem a verdade o fazemos porque, descobrimos agora, fizeram-no por terem despertado, no último instante, para o discernimento. Descobriram, à última da hora, a patranha, e não gostaram de ver o que viram. Desiludidos e enganados , ao tomaram consciência do ardil em que caíram ou iam cair engolido nos acontecimentos, e por se sentirem impotentes para contrariar a ganância ideológica, adoptam a única medida ainda patriótica que podiam optar: desistem. Conscientes do lodo em que iam cair, recuam, optam pela “deserção”, abandonam o movimento e fogem do País por recusarem trair a Pátria. Obviamente que, com isso, perderam a oportunidade de virem a ser titulados de Heróis da Liberdade!
Mas para a História fica o insolente registo onde a separação, o trauma, o arrependimento, a fuga e o exílio surgem como penitência ao crime de Delinquência de Alta Traição, que, apesar de tudo, evitam cometer, fugindo. E deste modo, mais um gesto oficialmente desprezado, salvam a face da vergonha.
Os outros descomprometidos, já muito poucos, por ingenuidade, aventureirismo, excesso de confiança ou deficiente descodificação, teimam em persistir!?
Destes nos ocuparemos de seguida.
Por agora propomos nova pausa, para novo balanço.
Reconhecemos ser tarefa difícil precisar, com rigor e isenção absolutos, a panóplia de acontecimentos que se iriam seguir: uns foram liminarmente improdutivos, outros não passaram de intenções envergonhadas, outros de geração espontânea, outros foram praticadas sob o pânico e por reacção mecânica à consciência ferida, outros ainda permaneceram nas profundezas dum silêncio coagido e outros ainda foram e são fruto apenas da nossa imaginação.
Afigura-se-nos assim e ainda ser pragmaticamente inexequível conseguir um relato categoricamente límpido, por excelente que seja a abstracção esta nunca oferece uma visão completamente igual à da realidade que foi vivida.
Primeiro por isso mesmo, por se tratar duma abstracção, e segundo porque certamente que o estado das circunstâncias de que precederam os acontecimentos não pode ser observado pelos nossos olhos como o foram pelos olhos daqueles que os decidiram e praticaram: existiram porventura circunstâncias menores que influenciaram o resultado e que estão completamente desaparecidas.
Em todo o caso tentaremos confortar a interpretação sob dois pontos de vista distintos, um, porque sendo difícil colocarmo-nos no exacto ponto de vista das pessoas que agiram, ou seja, coligir tudo o que elas sabiam, todos os motivos que as levavam a agir, então temos de excluir e deixar de fora do nosso raciocínio tudo o que essas pessoas não sabiam ou não poderiam saber: as consequências; o outro, porque quando agora descobrimos que alguns praticaram esses actos sob a égide duma orientação mascarada, oculta e inconfessável, escondendo dos restantes intenções e objectivos, enganando as opções, procedimentos e a solidariedade, neste caso, já não os podemos excluir ou alijar da responsabilidade pelas consequências.
A análise e fundamentalmente a conclusão, seja a curricular ou a perjurenta, ou até mesmo a histórica, em lista de espera, qualquer delas conterá uma nebulosa de dúvidas e de incertezas. Mas uma certeza é constante nelas todas: se de qualquer delas decanterarmos os aspectos inocentes e puramente aleatórios, então detectaremos, com limpidez, dois tipos diferenciados de empenhamento: os que se moviam por fora do acordo de Paris (outsiders), cuja acusação não deverá ir além da negligência; e os que se moviam à luz desse acordo, cuja acusação variará entre a cobardia e a traição.
Apesar da incoerência e da ingestão revolucionária e do silêncio oficial tudo isto revela-se magicamente líquido, coerente e verosímil que o próprio general Spínola que com o subversivo e inspirador Portugal e o Futuro dera um contributo moral e material ao movimento e um impulso decisivo ao golpe de estado, e que até havia colaborado na feitura do próprio programa revolucionário, se viu forçado, após o golpe – este golpe -, depois de tomar consciência da conjura, a tomar algumas atitudes que ao de leve a história regista, das quais se destaca a acusação sustentada em vários livros redigidos com o propósito de esclarecer “dúvidas”, desfazer “equívocos” e formular “acusações, desvios, cobardias e traições”..."
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
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