
Ficamos no processo de averiguações em resultado da reclamação da Avaliação tida em 2005.
Já lá regressamos, faço um parentesis para dizer que – COMO NÃO PODIA DEIXAR DE SER – E MAU GRADO A AMEAÇA, apresentei Recurso Hierárquico, recurso este que viria a merecer uma estranha resposta que viria desencadear um séquito de procedimentos e mais uns “NÃO SEI QUANTOS” PROCESSOS DISCIPLINARES.
Esta resposta recorrente mereceu – COMO NÃO PODIA DEIXAR DE SER – um comentário oficial por mim dirigido ao mais alto cargo da hierarquia militar que por ser extensa retiro um pequeno trecho para partilhar com todas as pessoas de bem.
“… O Signatário antes de recorrer fez o seu estudo pessoal, obviamente imperfeito por se basear em frágeis informações que os corredores do informalismo deixaram escapulir.
Mas não podia alegar o resultado desse seu estudo, quer pelo motivo apontado, quer, especialmente, porque não dispunha, nem isso seria verosímil, de informação nuclear. Aquilo que soube foi-lhe confiado enquanto sonhava, especificamente enquanto incarnou no papel que estranhamente o sonho lhe reservou, o de Eremita perdido numa floresta de petições, reclamações, recursos, normas, leis, despachos formais, despachos informais, decisões complementares, anexos, estudos, notas, pareceres e processos de averiguações e outra fauna normativa ainda por identificar.
Perdido nessa floresta virgem depressa se viu desorientado e sem saber para onde ir, até que é abordado pelo vento que lhe confidencia ser superior a 4 valores a média dos majores do seu quadro avaliados na mesma conjuntura. O vento, velho e leal, companheiro, experiente conhecedor da floresta virgem onde momentaneamente o Signatário se encontra encurralado e confuso decide cortejá-lo com uma singular oferenda, apresentá-lo ao líder da comunidade autóctone. Ao vê-lo, o Signatário, sentiu um mal disfarçado arrepio de pele, que o Mestre ignorou preferindo oferecer um sorriso único e um olhar penetrante só ao alcance dos dotados, mas apesar da disfarçável simpatia e da cortesia dispensada, a verdade é que a sua aparência física impressionou o Signatário. Embora contemplasse nele um homem alto, forte e de rosto feliz, anatomicamente a coisa dizia o contrário, faltava-lhe o olho direito, o braço esquerdo e a perna esquerda também.
Mal sabendo o que o futuro lhe reservara, apresou-se a murmurar sobre Deus, questionando-o porque permitiu tamanha deformidade.
Com efeito, e, em termos absolutos, tratava-se dum ser quase repugnante, dum homem anatomicamente desfavorecido.
Poder-se-ia dizer, subtraindo a crueldade, que, em TERMOS ABSOLUTOS, tinha uma fai anatómica negativa e desfavorável, isto é inquestionável.
Os pensamentos sobre a inclemência divina são interrompidos pelo convite do chefe para visitar a aldeia e o resto da comunidade que liderava, constituída por apenas 31 autóctones assim distribuídos, além dele, 14 machos adultos, 11 fêmeas adultas 3 crianças machos e 2 fêmeas.
Mas qual não foi o seu espanto e perplexidade ao ver um aglomerado de homens, mulheres e crianças que tinham todos, excepto o líder, em comum a seguinte característica: não tinham nenhum olho, nenhum braço e nenhuma perna.
Foi então que, apesar dos circunstancialismos emocionais, corrigiu a avaliação dada ao mestre, pois comparando a sua anatomia com aquilo que acabava de ver e constatar, esta era, sem dúvida, excepcionalmente positiva, favorecida.
(...)
Curiosamente, no dia seguinte à dramática experiência, o eremita sonhador impulsionado pelo PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES seguiu o seu caminho, ainda desorientado, penetrando cada vez mais fundo na floresta normativa, vendo leis e despachos em tudo o que era vereda, e, assim calcorreou até se deparar com um desfiladeiro inultrapassável, excepto para a visão que contemplava um enorme rio cinzento, cujas margens estavam identificadas por um nome, a do seu lado chamava-se margem Graciosa, a oposta chamava-se margem Contenciosa.
Cansado, confuso, perdido e sem saber o que fazer já que à sua frente desafiava-o um inultrapassável precipício. Quase resignado, preparava-se para a viagem de regresso, senão quando os seus pensamentos são interrompidos pelo zoar das asas duma enorme ave que passando rés à sua cabeça aterrou à sua frente, regateando-lhe um olhar intimidador.
Tratava-se dum exemplar único da família das grandes águias, cujo nome científico é Águia-Samme, e que ao vê-lo desorientado e perdido questiona-lhe: porque estás por estas bandas, seu tonto deserdado?
Bem sabe Sr.ª Águia, sou um simples oficial do Exército Português que sem saber porquê aqui veio parar, e que ainda por cima anda aborrecido por ter sido injusta e incorrectamente avaliado.
A águia, sem deixar escapar um murmúrio audível, apressou-se a moralizá-lo dizendo que não ficasse ressentido, nem triste, porque apesar de se tratar duma média comparada nitidamente desfavorável - muito desfavorável mesmo, - quem estava errado não era ele, mas sim o sistema que a produziu e acrescentou não te deixes abater porque ao contrário do que julgas não és nada estúpido. Se alguém é estúpido não és tu, acredita em mim que em verdade te digo, compreendo perfeitamente o que queres dizer e a questão de fundo que levantas com a tua exposição, com o qual concordo, pois tens TODA a razão para te sentires prejudicado por uma avaliação feita por medida. Que aliás nem sequer levou em conta a conceptualidade como ainda foi pronunciada por critérios que a outros não foram tidos. Continua a tua luta, não te resignes e crê, por que te digo, que não és estúpido, nem pronuncies mais esta palavra, ok?
Continua a luta e que Deus te acompanhe, já agora segura-te nas minhas garras que eu ajudo-te a ultrapassar o desfiladeiro, pois na margem Contenciosa há um belo e paradisíaco jardim que gostaria que visitasses, chama-se Zoomnicaco, observa-o e verás que jamais esquecerás a visão.
Foi então que, entrado nesse jardim, logo reparou numa grande cela vidrada, protegida com altas e grossas barras de aço, lá dentro encontravam-se cinco animais que pela legenda eram: o Signatário, um Orangotango, um Chimpanzé, um Macaco Narigudo e um Sagui da Guiné.
Do colossal orangotango ao minúsculo sagui todos partilhavam o mesmo cubículo e as mesmas regras sociais.
Enquanto observava a excitação dos animais, senti a sombra do Tratador aproximando-se com o repasto do dia.
Cumprimentámo-nos e após alguns minutos de conversa o tratador não resiste em maldizer do Signatário, acusando-o de rebeldia e de insurgente por não fazer e agir conforme os outros fazem e agem; enquanto os outros saltam, guincham e se penduram nas barras, ele queda-se sentado num canto; enquanto os outros guincham por comida ela nada pronuncia a não ser, de longe a longe, uma cacofonia indecifrável como que estivesse a dizer que o seu lugar não era ali. Já cheguei, inclusivamente, a propor a instauração dum processo de averiguações pois acho-o com dificuldades de relacionamento com os outros; acho-o melancólico e doente e acho-o um animal de feições pouco correctas porque em vez de alinhar conjuntamente com os outros na hora do repasto, insurge-se, violentamente, contra o balde espalhando a refeição. Vê-se que contrasta com os restantes, é nítido que tem problemas de relacionamento com quase todos, excepto talvez o Chimpanzé que, estranhamente, uma vez por outra, se coloca a seu lado parecendo contemplar o ruído provindo do silêncio dos seus pensamentos…”
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