
O SUICÍDIO DUM AMIGO
Corria o mês de Dezembro quando o Cais da Ilicitude foi torpedeado com a mais horrível e indesejável notícia dos últimos anos: o suicídio do (…).
A notícia da morte do (…), camarada e amigo de longos anos, companheiro de velhas lutas militares e académicas, companheiro de quarto, companheiro de funções quando ambos enquadravam um Pelotão de instrução, amigo de fartas horas de lazer e das noitadas sem fim comuns a todos os homens da casa dos vinte, abalou aqueles que o conheciam e estimavam.
Por estes motivos (e por outros inconfessáveis), esteja ele onde estiver sei que me perdoará por não ter ido materialmente ao seu funeral.
(…)
São muitas as razões, que ninguém ainda está capaz de diagnosticar, e, que podem conduzir um homem a tal extremo.
Mas tratando-se dum militar de carreira, a poucos anos de passar à situação de reserva, devia içar em todos nós, uma especial, adicional e peculiar preocupação.
Salvaguardando a confidencialidade e o dever de reserva adjacente a este cruel acontecimento, o Arguido acha contudo ter o dever e o direito de estender um pouco mais a reflexão sobre a infelicidade que, conjunturalmente, recaiu sobre um grande amigo pessoal e camarada de armas.
Poucos dias antes desta imprevisível notícia, tivemos ambos, NA COMPANHIA DUM TERCEIRO AMIGO COMUM, uma longa conversa onde debatemos coisas do passado, do futuro e especialmente do presente.
Deu para ver e notar que o (…) tinha o moral a zero, estava psicologicamente arrasado e emocionalmente perturbadíssimo.
Tudo fizemos para o moralizar.
Apoiá-mo-lo em todas as pré-decisões que adivinhava fazer, excepto uma que não previmos nem ele deixou escapar.
Mas no final, quando ele se retirou, pairava no ar uma estranha sensação comum aos dois “auditores”. Interpretamos ambos que o o resultado da conversa soava a alarme, parecia-se com um pedido de “ajuda”.
De tal modo ficamos impressionados que decidimos, por iniciativa própria, fazer algo para ajudar o infeliz amigo.
Descortinamos uma solução possível, quem sabe: PEDIR AJUDA TÉCNICA E HUMANA AO DR. R. S., MÉDICO PSIQUIATRA.
Em vão.
Infelizmente o (…) antecipou-se.
Dado o especial teor da conversa, o circunstancialismo que se lhe seguiu, e especialmente, o que ela representa, ambos (os sobreviventes da conversa) consideramos ser “FIÉIS DEPOSITÁRIOS” dos derradeiros desabafos e especiais preocupações que, em vida, atormentaram o (…) e que a morte fez espiar.
(…)
PS – É sabido que se faz inquéritos para tudo e para nada, mas achamos estranho, estranhíssimo, que um drama destes não tenha sido objecto dum inquérito…
Coisas da modernidade, talvez.
1 comentário:
...(PENA, ELE NÃO TER PROCURADO UM MÉDICO QUE O AJUDASSE!!!)...
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